Artista: João Machado
Curadoria: Khadyg Fares
Abertura: 06/05/2023 às 11h
Período: 06/05 a 30/05
Curadoria: Khadyg Fares
Abertura: 06/05/2023 às 11h
Período: 06/05 a 30/05
G E O P R Ó P O L I S
Nas florestas, nos campos, nas cidades e até aqui, no entorno da Villa Mandaçaia, são locais onde vivem
as abelhas sem ferrão. Somando-se quase 300 espécies, entre elas, a própria mandaçaia, essas abelhas de
pouco mais de um centímetro são capazes de polinizar quilômetros inteiros de florestas nativas, como é o
caso de nossa Mata Atlântica. Produzem o mel, a cera e o geoprópolis, substância da qual se originou o
título dessa exposição individual de João Machado e que corresponde à mistura de terra (geo) e própolis
feita pelas abelhas-sem-ferrão.
Conhecidas ainda como abelhas indígenas ou nativas, as abelhas sem ferrão, mantiveram-se em
comunhão com o clima, a vegetação, os animais e os povos deste território, um equilíbrio que foi
rompido por um intenso processo de depredação ambiental, iniciado com a invasão dos ibéricos nas
Américas. A chegada da idade moderna atingiu violentamente as populações nativas, além de provocar
toda uma reordenação ambiental, como é o caso da vinda de abelhas com ferrão ou as de origem
europeia que, hibridizadas com as vindas da África, tornaram-se predominantes por aqui. Esta foi uma
dentre muitas consequências do comércio triangular exploratório no Atlântico, que subjugou pessoas,
escravizando-as, expropriou mercadorias, metais, animais e plantas. O suposto progresso moderno e seu
desenvolvimento é hoje uma ameaça e tem levado várias espécies de abelhas sem ferrão a viverem em
iminente risco de desaparecimento .
Ser agente na defesa das abelhas nativas é o ponto de partida da produção do artista e ativista João
Machado, que soma mais de dez anos de pesquisa com as abelhas sem ferrão. Trabalho este que se
materializa aqui, no desenho do projeto Geoprópolis. O espaço onde nos encontramos será, por alguns
dias, semelhante a uma caixa racional de criação de abelhas, ponto de partida e/ou de chegada das
derivas de mapeamento de seus ninhos. Além das saídas pelo entorno, há ainda um mapa onde
serão acumulados registros das localizações dos ninhos da região. Geoprópolis é composta
completa com a obra Terra em defesa da cidade, uma escultura construída por Machado com caixas de
abelhas nativas, cera e resina de abelhas, latão e telas de tamanhos variados. Nessas janelas são exibidos
vídeos de colmeias encontradas, que serão constantemente atualizados por novos registros produzidos
durante as derivas durante o período da mostra.
A busca por esses seres que insistem em fazer florestas sobre e apesar de todo metal, concreto e asfalto, é
de algum modo uma forma de rastrear outra cidade que não seja apoiada no modelo colonial-moderno.
Sob outra perspectiva, nos abaixaremos, esticaremos nossos corpos ou contorceremos nossos pescoços
para olharmos nos ocos de árvores, nas fendas dos muros, nas cavidades das paredes, nos postes, ou
ainda, no solo. E, por fim, para colocarmos-nos diante da seguinte questão: “nos lembramos da
última vez que nos pensamos como parte de um corpo coletivo”?
as abelhas sem ferrão. Somando-se quase 300 espécies, entre elas, a própria mandaçaia, essas abelhas de
pouco mais de um centímetro são capazes de polinizar quilômetros inteiros de florestas nativas, como é o
caso de nossa Mata Atlântica. Produzem o mel, a cera e o geoprópolis, substância da qual se originou o
título dessa exposição individual de João Machado e que corresponde à mistura de terra (geo) e própolis
feita pelas abelhas-sem-ferrão.
Conhecidas ainda como abelhas indígenas ou nativas, as abelhas sem ferrão, mantiveram-se em
comunhão com o clima, a vegetação, os animais e os povos deste território, um equilíbrio que foi
rompido por um intenso processo de depredação ambiental, iniciado com a invasão dos ibéricos nas
Américas. A chegada da idade moderna atingiu violentamente as populações nativas, além de provocar
toda uma reordenação ambiental, como é o caso da vinda de abelhas com ferrão ou as de origem
europeia que, hibridizadas com as vindas da África, tornaram-se predominantes por aqui. Esta foi uma
dentre muitas consequências do comércio triangular exploratório no Atlântico, que subjugou pessoas,
escravizando-as, expropriou mercadorias, metais, animais e plantas. O suposto progresso moderno e seu
desenvolvimento é hoje uma ameaça e tem levado várias espécies de abelhas sem ferrão a viverem em
iminente risco de desaparecimento .
Ser agente na defesa das abelhas nativas é o ponto de partida da produção do artista e ativista João
Machado, que soma mais de dez anos de pesquisa com as abelhas sem ferrão. Trabalho este que se
materializa aqui, no desenho do projeto Geoprópolis. O espaço onde nos encontramos será, por alguns
dias, semelhante a uma caixa racional de criação de abelhas, ponto de partida e/ou de chegada das
derivas de mapeamento de seus ninhos. Além das saídas pelo entorno, há ainda um mapa onde
serão acumulados registros das localizações dos ninhos da região. Geoprópolis é composta
completa com a obra Terra em defesa da cidade, uma escultura construída por Machado com caixas de
abelhas nativas, cera e resina de abelhas, latão e telas de tamanhos variados. Nessas janelas são exibidos
vídeos de colmeias encontradas, que serão constantemente atualizados por novos registros produzidos
durante as derivas durante o período da mostra.
A busca por esses seres que insistem em fazer florestas sobre e apesar de todo metal, concreto e asfalto, é
de algum modo uma forma de rastrear outra cidade que não seja apoiada no modelo colonial-moderno.
Sob outra perspectiva, nos abaixaremos, esticaremos nossos corpos ou contorceremos nossos pescoços
para olharmos nos ocos de árvores, nas fendas dos muros, nas cavidades das paredes, nos postes, ou
ainda, no solo. E, por fim, para colocarmos-nos diante da seguinte questão: “nos lembramos da
última vez que nos pensamos como parte de um corpo coletivo”?
Khadyg Fares